Categoria já se mostra dividida, mas a maioria quer a continuidade do movimento
MARIANA PAIVA
Reunidos ontem pela manhã no estacionamento da Assembleia Legislativa ao som de apitos e discursos, os servidores da Justiça baiana decidiram manter a paralisação, que completa hoje 33 dias. Os servidores voltam a se reunir no dia 17, às 9 horas, na Associação dos Bancários, paraavaliarosavançosnanegociação com o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
Segundo Eleonora Fernandes, oficial de justiça da 3ª Vara de Família, a diferença salarial entre pessoas que ocupam os mesmos cargos no Judiciário baiano é exorbitante.
“Sou oficial e ganho R$ 3 mil. Tenho colega de cartório que faz a mesma coisa e ganha R$ 42 mil. Não tem justificativa para isso”, conta.
Maria de São Pedro, escrevente do Fórum Ruy Barbosa, veio do bairro de Cosme de Farias, onde mora, para apoiar o movimento de greve, mesmo de cadeira de rodas.
“Fomos muito lesados. Chego no horário, trabalho 8 horas por dia. Não vou abrir mão de minha guerra”, diz.
Durante a assembleia da categoria, embora o comando de greve estivesse disposto a acabar com a paralisação, a maioria dos servidores se recusou.
A categoria estava claramente dividida durante a assembleia: um grupo que usava camisas pretas ou vermelhas apoiava a continuidade da greve; os de branco queriam que a paralisação acabasse.
Do lado dos que estavam contra a paralisação, Dilcema Almeida, diretora da secretaria da 8ª Vara de Família, reclamava do que considera uma injustiça cometida contra quem recebe adicionais sobre o salário-base. “Só uma parcela recebia os supersalários, e isso já foi corrigido. O adicional de função é para quem trabalha 8 horas ou exerce cargos de maior responsabilidade e conhecimento técnico, e pode variar de 30% a 150% sobre o salário base”, considera. Dilcema revela ainda que acredita que a presidente do Tribunal de Justiça, a desembargadora Telma Britto, não está no cargo há tempo suficiente para resolver os problemas de gestões anteriores.
Para Álvaro Boaventura, supervisor do Juizado Cível de Guanambi-BA, o objetivo da greve não é brigar por melhores salários, mas promover uma moralização da Justiça baiana. “Não estamos pedindo aumento. A proposta da condição especial de trabalho (CET), que a desembargadora quer aprovar, nada mais é que a legalização dos supersalários”, diz.
Quem apoia a CET, desde que com ressalvas, é o deputado estadual Zé Neto (PT-BA).
“Os adicionais podem acontecer, desde que de forma criteriosa. A reivindicação do movimento é válida, mas a posição da desembargadora é correta também. Espero que saia daqui uma decisão que reflita na melhoria do atendimento à população: dinheiro para investir, servidores satisfeitos e um Tribunal de Justiça com comando. Esse tripé ideal”, considera o deputado.
Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça, a desembargadora Telma Britto não vai se manifestar sobre a paralisação, mas aguarda que os servidores retornem ao trabalho o mais rápido possível.
Ainda por meio da assessoria, Telma Britto divulgou que não poderá evitar o corte no ponto dos dias não trabalhados dos servidores porque esta foi uma decisão plenária.
Durante todo o dia de ontem, A TARDE tentou, sem sucesso, falar com Maria José Silva, que é a presidente do Sinpojud.
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População continua indignada e pendências vão se acumulando
Cadeiras vazias e portas cerradas: este foi o cenário com que muitas pessoas se depararam na manhã de ontem nos cartórios da cidade. O silêncio na porta dos cartórios era quebrado apenas por manifestações indignadas de quem teve de voltar para casa ou para o trabalho sem resolver suas pendências.
No Tabelionato do 4º Ofício de Notas, no Shopping Sumaré, um folheto anunciava a paralisação das atividades por 24 horas. “Vou chegar atrasado no trabalho meia hora e não resolvi nada aqui. Vim autenticar uma procuração que é urgente”, contou Abelardo Padilha, auxiliar administrativo.
O office-boy Uanderson de Jesus também teve de voltar ao escritório de contabilidade onde trabalha com seu envelope pardo sem ser aberto. “Vim fazer um reconhecimento de firma, mas não tem jeito, né?” Nos escritórios de advocacia da cidade, o clima era de pesar. Isto porque, com a maioria dos cartórios fechados, os prazos judiciários pararam de correr e o volume de trabalho acumulado quando a greve terminar promete ser grande. “A paralisação atrapalha o andamento dos processos, porque nosso trabalho praticamente para”, contou Murilo Nunes, advogado do escritório Martorelli, Gouveia e Trindade. Ele calcula que aproximadamente 500 processos para os quais advoga se encontram parados.
Para Saul Quadros, presidente da OAB-BA, a greve é um desastre para os advogados.
“Não podem peticionar nem recorrer. O cliente também está sendo muito prejudicado, porque fica sem seus direitos”, dimensionou.
Em nota oficial, o presidente da OAB-BA conclama o Tribunal de Justiça a encontrar uma forma de acabar com a “cultura do privilégio” e dar fim à paralisação dos servidores. “Espero que vejam o estrago que já fizeram. Neste momento, é impossível registrar um imóvel comprado ou um empréstimo bancário e até mesmo tirar uma certidão de nascimento”, disse Saul.
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Em Feira de Santana e Itabuna, não há juízes em número suficiente
GLAUCO WANDERLEY E ANA CRISTINA OLIVEIRA Feira de Santana e Itabuna
Na cidade de Feira de Santana, a Justiça vive um caos que não pode ser resolvido nem com o fim da greve. Esta é a avaliação do presidente da seção local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Osvaldo Torres Neto. Para ele, “não há luz no fim do túnel”.
A estimativa da entidade de classe é que apenas nos juizados especiais, que envolvem causas de baixo valor, tenham deixado de ocorrer aproximadamente 1.200 audiências, com base em uma média de 60 por dia.
Quando não há greve, o andamento dos processos é lento, porque, além de funcionários, faltam juízes. “Campina Grande, na Paraíba, tem metade da população e o dobro de juízes. Aqui atendemos uma população que chega a um milhão de pessoas, considerando os 600 mil de Feira de Santana e os moradores de cidades vizinhas que procuram o serviço no Fórum Filinto Bastos”, compara.
Processos parados Cerca de 40 mil processos ficaram parados nas nove varas da Comarca de Itabuna (cinco cíveis, duas de família e três criminais) e ainda nos três juizados especiais, nesses 33 dias de greve dos serventuários da Justiça, completados hoje. Os cartórios extrajudiciais estão parados, e apenas 30% dos serventuários dos cartórios judiciais permaneceram no plantão, para os serviços emergenciais (habeas corpus, certidão de óbito, mandado de segurança e planos de saúde).
Segundo uma serventuária que não quis se identificar, os casamentos que estavam marcados estão sendo realizados.
A economista Augusta Nogueira tentou autenticar documentos para realizar um trabalho fora do Brasil e saiu frustrada. “Já deveria ter viajado há 18 dias e estou dependendo desses documentos”, reclamou.
Marcos Magalhães Silva disse que há quase um mês está precisando dos serviços cartoriais extrajudiciais de imóveis, para pagamento para lavrar uma escritura, e não está conseguindo. E Antônio Modesto de Souza ainda não conseguiu registrar o filho que nasceu há 21 dias.
Segundo o juiz da 4ª Vara Cível, Waldir Viana Ribeiro Junior, os oito novos juízes que chegaram à comarca, há sete meses, trabalharam em ritmo de mutirão para colocar as varas em dia. Coma greve, voltou tudo à estaca zero.
FONTE: Jornal A Tarde - 09/06/2010
Estou completamente decepcionado com tudo e decidi voltar ao trabalho. Decepcionado com a postura do sindicatos que deixam o movimento na mão de alguns servidores sem tomar para si a responsabilidade de ir atrás de uma declaração de inconstitucionalidade das leis que instituíram o adicional. Decepcionado pelo oportunismo da presidente do Sinpojud que não se posiciona com veemência. Decepcionado com a Assembléia Legislativa, pois sabemos que a CET já é aprovada por acordo entre líderes e a Presidência do TJBA. E, por fim, com colegas apadrinhados que como "nobres" de uma casta superior estão tentando manter seus privilégios ao invés de se unir à categoria e lutar por PCS justo, mas destes não se poderia esperar outra coisa. Enquanto isso eu, pobre mortal, assumo as funções de diretor de secretaria sem receber pela função, embora muitas vezes solicitada pelo magistrado, ainda que pessoas próximas a desembargadores na mesma condição já tenha sido investido no cargo comissionado. O fato é que estarei voltando e cumprirei irrestritamente minhas funções, nada além do que me é atribuído por lei, e que as funções de chefia sejam solicitadas a pessoas que já recebem adicional de função. Enviarei ofício ao TJ ofício nesse sentido e informarei ao magistrado. Cansei!
ResponderExcluirPenso que duas medidas devem ser tomadas, IMEDIATAMENTE, pela presidente do TJBA, como demonstração de capacidade para negociar uma solução para a greve. Vejamos quais são:
ResponderExcluir1º) Retirar da ALBA o PL 18.460/09, para que o seu teor seja rediscutido democraticamente com os servidores;
2º) Decretar a instituição imediata de uma comissão formada por representantes do TJBA e representantes dos servidores (inclusive do interior) para que comece a preparar duas propostas para a antecipação do PCS, uma delas partindo da hipótese de que a liminar deferida pelo CNJ será mantida quando do julgamento do mérito; e outra, partindo da hipótese de que a referida liminar não será confirmada na decisão meritória.
Com essas medidas, que são efetivamente concretas, aproveitaríamos, produtivamente, os dias vindouros até o julgamento final sobre a manutenção, ou não, dos adicionais de função pelo CNJ, de forma que, seja qual for tal decisão, já teríamos em mãos as propostas da comissão adequadas para serem aplicadas.
Obviamente, para que isso tenha êxito será imprescindível, também, que o TJBA coloque de lado interesses particulares de seus membros e de poucos servidores de gabinetes e disponibilize para a comissão, na mesa de trabalho, TODAS AS INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS (FOLHA DE PAGAMENTOS ETC.), o que será uma demonstração de comprometimento com a preservação da própria Instituição.
Desta forma, se a presidente Telma Britto adotasse concretamente tais medidas, acredito que a greve poderia chegar ao fim. Quanto aos demais pontos de nossas reivindicações, iríamos negociando sem paralisação.
Bom, a solução está nas mãos dela...
Sempre em frente, companheiros, rumando para a grande VITÓRIA!!!
O JUDICIÁRIO BAIANO PRECISA DE MAIS SERVIDORES! OS APROVADOS TEM DIREITO À NOMEAÇÃO! ESPERO QUE NÃO SE ESQUEÇAM DE NÓS AO FAZEREM AS CONTAS!
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